SACERDOTISA CORNELEND

Capítulo 14 - ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE O FEMINISMO

Capítulo 14

ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE O FEMINISMO


Assim como a Deusa está a começar a reentrar na consciência pública, existem alguns grupos cujos métodos e prácticas estão a causar confusões, ameaçando e prejudicando o nosso progresso. Estou a referir aos grupos feministas de Deusas que promovem inequivocamente que a religião da Deusa é apenas para mulheres, ou está orientada especificamente para mulheres. Não há absolutamente nenhuma base histórica sobre essas alegações.

Alguns desses grupos feministas são muito militantes e hostis em relação aos homens, enquanto outros proclamam, uma filosofia muito calorosa e amorosa, no final, apenas revelam em letras miudinhas a sua política restritiva de género. No entanto, não importa como este tipo de discriminação possa ser apresentado, sinto que é um problema sério dentro do nosso movimento e que requer alguma discussão.

Tenho a certeza que, a maioria das pessoas concorda que as mulheres têm queixas justificáveis depois de séculos de abuso por parte de várias entidades patriarcais. Certamente, o feminismo tem uma grande validade social e política. No entanto, devemos perguntar-nos se é apropriado combinar essa agenda com o renascimento da religião da Deusa e o trabalho que estamos a tentar fazer em seu nome.

Devemos ter em mente que, antes da invasão Kurgan, acredita-se que as sociedades neolíticas eram bastante igualitárias. O patriarcado chegou mais tarde, como parte da filosofia Kurgan que explorou violentamente os povos por eles conquistados. Esse comportamento bárbaro e imoral tornou-se imerso nos nossos sistemas sociais e políticos, os quais têm atormentado a humanidade desde então.

Não há nada de errado inerente aos homens. O patriarcado é simplesmente o resultado do condicionamento psicológico, cujo objectivo principal é permitir que uma classe corrupta dominante mantenha o seu poder, para assim justificar as suas acções criminosas e egoístas... e, esse programa de condicionamento psicológico tem muitas consequências negativas para os homens, bem como para as mulheres. Enquanto as mulheres são reduzidas a empregadas domésticas, brinquedos sexuais e máquinas reprodutoras, os homens são condicionados a tornarem-se escravos assalariados e carne para canhão. Obviamente, se formos bem-sucedidos em construir uma sociedade mais pacífica e igualitária, tanto os homens como as mulheres, devem reconhecer esses problemas e trabalharem de forma conjunta para criarem as mudanças.

A religião da Deusa poderá ser útil para alcançar esse objectivo. Ela vem do mundo pré-Kurgan e oferece valores positivos onde podemos basear a nossa existência... incluindo a igualdade de género. Portanto, é surpreendente que existem grupo de Deusas que defendam qualquer forma de discriminação de género. Na minha opinião, elas não estão realmente a seguir um caminho saudável e correcto, e as suas acções servem, muitas vezes, para ofender e alienar o público em geral.

Existem outras formas, as quais, alguns grupos modernos de Deusas apresentam uma compreensão pouco adequada da nossa religião. Por exemplo, existe a ideia de que, como a Deusa é retratada no feminino, ela relaciona-se mais directamente com as mulheres do que com os homens. Na verdade, a divindade não tem género. As culturas pacíficas da Deusa Neolítica imaginaram a divindade no feminina, enquanto os bárbaros violentos, que mais tarde invadiram a maior parte do mundo ocidental, imaginavam a sua divindade no masculino. É claro que nenhum dos dois estava correcto, mas foi a partir das suas definições de divindade que a religião da Deusa e a religião do deus-guerreiro vieram a ser estabelecidas.

Quando falamos da divindade como Deusa, o que estamos abranger verdadeiramente, é a definição da divindade como uma entidade pacífica e benevolente em oposição a uma entidade violenta e ciumenta. Nenhum género físico está realmente envolvido e, portanto, este entendimento da divindade deve ser igualmente atraente e aceitável para todas as pessoas, sejam elas masculinas ou femininas.

Ainda outro equívoco problemático, está na ideia de que o aspecto físico do corpo feminino é uma "experiência sagrada". Isto geralmente envolve associar o ciclo menstrual às fases da lua, ou a ideia da Deusa-Tripla, retratada como donzela, mãe e anciã. O conceito da Deusa Tripla é uma ideia bastante nova, proposta inicialmente num livro intitulado The White Goddess (1948), de Robert Graves. Embora o livro apresente muitas ideias ponderadas sobre o arquétipo da Deusa primordial, é uma obra de ficção que não está apoiado por qualquer tipo de evidência genuína. Da mesma forma, não há um precedente histórico para a ideia de que a menstruação é uma experiência sagrada. É simplesmente uma função biológica natural, comum a todos os mamíferos do sexo feminino, e qualquer relação com as fases da lua é mera coincidência.

Não sei bem porque alguns grupos de Deusas endossaram nesses mitos, mas sinto que servem apenas para nos distrair de uma prática espiritual adequada, além de apresentar obstáculos desnecessários ao envolvimento dos homens nos grupos.

Em seguida, alguns grupos de Deusas deixaram claro que não aceitam mulheres transexuais como membros, referindo-se a eles como "machos cirurgicamente alterados". Isto entra em colapso com as crenças psiquiátricas modernas, que nos dizem que uma pessoa deve ser considerada como pertencente ao género ao qual ela está psicológica e espiritualmente alinhada. Além disso, se examinarmos as nossas tradições, descobriremos que os transexuais serviram frequentemente como clero em tempos antigos, antes da chegada das religiões Abraâmicas. Depois disso, a sua popularidade e talentos foram vistos como uma ameaça, e eles foram perseguidos e demonizados. Portanto, parece óbvio que a discriminação contra transexuais está em oposição à nossa história e à nossa sabedoria espiritual.

Finalmente, ouvi que alguns membros de grupos exclusivamente femininos (só com mulheres) a dizerem que não têm nada contra os homens, no entanto, eles precisam de um lugar para discutir os "seus problemas". Claramente, elas não estão a prestar de forma adequada um serviço orientado à Deusa. Embora eu tenha a certeza que um membro do nosso clero poderá fornecer aconselhamento privado, elas devem lembrar-se que o propósito de um grupo de Deusas é espiritual... e não propriamente um grupo de apoio de violência doméstica.

As pessoas que assumiram a tarefa de formar grupos de Deusas só para mulheres devem-se questionar quais os objectivos que realmente desejam seguir. Se essas metas se relacionarem com feminismo ou questões feministas, elas precisam encontrar um local adequado para isso. Por outro lado, se elas desejam servir a Deusa e levar a sua mensagem de paz e cooperação às pessoas, então devem adoptar políticas que reflictam adequadamente as crenças centrais da religião... incluindo a igualdade de género.

 

Imagem 85 - Homem e mulher, duas polaridades e duas metades de um só Ser. A Deusa convida à união para que assim a harmonia se estabeleça, e o Ser se complete.

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