Capítulo 7
OS TRANSEXUAIS
A história dos transexuais é longa e fascinante. Eles têm um lugar na história de quase todas as culturas do nosso planeta. Eu gostaria de dedicar alguns minutos para discutir este assunto, porque é verdadeiramente essencial para uma compreensão adequada da religião da Deusa no mundo antigo, e também porque permanece um tópico muito controverso na nossa sociedade actual.
Como sabemos, a história escrita começou por volta de 3000 a. C., no Egipto e no Iraque. Se examinarmos alguns dos mais antigos documentos sobreviventes desse período, encontramos referências a transexuais que serviam como cléricos nos vários templos da Deusa. Além disso, os linguistas dizem-nos que os títulos destes oficiais, não estão em nenhum dialecto proto-indo-europeu, mas derivam de línguas muito mais antigas (indígenas) da região. Em outras palavras, os transexuais já ocupavam posições de autoridade nas instituições religiosas antes do início da história escrita, e muito antes da invasão Kurgan.
Avançando no tempo, descobrimos que a absorção da religião da Deusa nas sociedades Kurganizadas trouxe a aceitação dos transexuais nas várias funções espirituais. Por exemplo, eles serviam frequentemente como intermediários entre as pessoas comuns e a divindade. Acreditava-se que eles podiam ter acesso a um complexo universo metafísico e, em alguns casos, receber comunicações proféticas da divindade e predizer o futuro. Além disso, muitas vezes, eles foram professores ou cuidavam de doentes.
A religião da Deusa é, de longe, a mais antiga forma conhecida da espiritualidade humana, tendo evoluído a partir do começo do neolítico, tal como foi encontrado em Catal Hoyuk. A Deusa Cibele, em particular, parece ter permanecido mais fiel ao conceito original, sendo uma divindade "autónoma", e não meramente um membro de algum grande panteão... e, é bastante interessante notar que a religião de Cibele também continha a maior percentagem do clero transexual. Temos até provas que algumas Sibilas eram transexuais.
Claramente, os transexuais têm desempenhado um papel muito significativo nas religiões antigas... especialmente aquelas relacionadas com a Deusa primordial. O que é realmente surpreendente é o quão consistentemente foram encontrados nesse papel em outras culturas espalhadas pelo planeta. Por exemplo, em muitas culturas nativo-americanas, os transexuais eram referidos como os "Dois Espíritos", e geralmente foram professores, curadores e videntes do futuro.
O papel social positivo que os transexuais tinham chegou a um fim súbito e trágico assim que os cristãos alcançaram o poder político. Além do ataque violento às outras religiões, eles fizeram de tudo para desacreditá-las. Como muitos dos templos da Deusa tinham clérigos transexuais, os cristãos criaram o mito que a transexualidade era antinatural e maligna, classificando-os como indivíduos promíscuos, prostitutas, mendigos etc. Isto serviu como uma desculpa conveniente para assassiná-los... sendo surpreendentemente que muitas destas acusações infundadas continuam actualmente a causar problemas sérios para as pessoas variantes de género.
Além disso, muitos historiadores cristãos retratam deliberadamente os transexuais como eunucos, tendo como finalidade afastá-los da sociedade. Naturalmente, um eunuco é um homem masculino que foi simplesmente castrado. As Sacerdotisas transexuais de Cibele (e outras religiões da Deusa), não eram claramente eunucos. Eles usavam roupas femininas, jóias e perfumes, penteavam os cabelos, usavam nomes femininos e viviam como mulheres em toda a forma possível. Alguns foram voluntariamente castrados, mas muitos não o foram.
Em geral, os relatos históricos sobre transexuais no mundo antigo, especialmente sobre o seu papel como clero nas várias religiões da Deusa, são extremamente imprecisos e ofensivos. Isto serviu apenas para perpetuar o tipo mais odioso e prejudicial dos estereótipos... assim como os Cristãos, seus autores, o pretendiam.
Felizmente, o trabalho recente de muitos médicos e psicólogos, bem como uma atitude mais esclarecida da população em geral, melhorou a nossa compreensão e aceitação dos transexuais... e, além disso, a pesquisa histórica imparcial, está agora a permitir-nos obter excelentes vislumbres da sua verdadeira herança do serviço comunitário no mundo antigo.