SACERDOTISA CORNELEND

Capítulo 5 - OS ANOS FINAIS

Capítulo 5

OS ANOS FINAIS

 

O assassinato de Júlio César em 44 a. C. trouxe mudanças dramáticas no carácter da vida romana. O governo, que antes era uma república democrática, rapidamente degradou-se numa ditadura. Os imperadores chegavam ao poder quase exclusivamente através da traição e da violência, e o seu comportamento corrupto e decadente logo contaminou a consciência nacional.

Por volta de 100 d. C., todas as principais cidades do império continham um verdadeiro circulo de três anéis de religiões estrangeiras, pregadores de rua, adivinhos e charlatões. Proliferavam novas práticas metafísicas e divindades estranhas, enquanto os aspectos genuínos da espiritualidade estavam perdidos. No meio dessa massa caótica de vendedores ambulantes, todos competindo por popularidade e apoio económico, até mesmo as religiões mais antigas e bem estabelecidas... incluindo a de Cibele... começaram a desdenhar.

Incitado pelo desejo público de ter uma divindade masculina mais proeminente, Átis foi elevado de personagem menor a um papel igualitário ao de Cibele. Este foi certamente o pior erro em toda a história da religião.

Em seguida, quando o conceito de vida após a morte tornou-se popular, a religião de Cibele começou a oferecer a imortalidade a indivíduos seleccionados a preços exorbitantes. Por volta de 150 d. C., eles instituíram um ritual conhecido como Taurobolium, que deveria conferir a imortalidade ao requerente, ungindo-o com o sangue de um touro sacrificial. 

 

Imagem 41 - Três lados de um altar de Taurobolium, ilustrando a bucrânia e uma faca de sacrifício, com uma dedicação à Grande Idaean, Mãe dos Deuses, de Lugdunum (Lyon).

Mais tarde, o fascínio pelas estrelas e planetas levou a religião a promover Átis como o deus da lua... e ainda mais tarde, a sua função mudou, passa a ser o deus do sol. Este tipo de divulgação ao público foi claramente um erro muito sério... e, de facto, acções similares por parte das outras religiões antigas acabaram por resultar numa grande perda da sua credibilidade e contribuíram para a queda colectiva da mesma.

Em 300 d. C., o fim estava próximo. Roma estava moral e espiritualmente falida, e a corrupção no governo era desenfreada. Um império que ganhou a sua prosperidade na conquista e na exploração, agora encontrava-se excessivamente ampliado... e as derrotas militares, as rebeliões e as dificuldades económicas aumentavam rapidamente. Quando o império começou a desmoronar, a população nervosa procurava freneticamente algum tipo de salvação. Foi neste clima de apreensão e medo que a religião do Cristianismo começou a reunir força social e política.

O cristianismo foi cuidadosamente criado para oferecer algo a todos. Não apenas incorporava todos os mitos mais populares do seu tempo, como a vida após a morte, os deuses que se transfiguram na forma humana, nascimentos virgens, ressuscitar dos mortos, etc., mas, além disso, muito convenientemente apresentou soluções extremamente simplistas para assuntos espirituais. Por exemplo, foi dito às pessoas que a morte de Jesus automaticamente as absolvia de todos os seus pecados, e que simplesmente ao acreditar nele, estava-lhes garantido o lugar Céu.

Isso atraiu uma população desesperada da mesma maneira que as soluções simplistas de Adolf Hitler atraíram o povo alemão durante a depressão. E da mesma maneira, os Romanos descobriram mais tarde que a cura foi pior do que a doença... pois, uma vez que haviam dado poder político aos Cristãos, seguiu-se um reinado de terror, tornando-se impossível recuperar a liberdade que eles tinham abdicado de forma tão insensata.

A ascensão do Cristianismo no governo Romano começou em 312 d. C., quando o imperador pró-Cristão de nome Constantino chegou ao poder. O seu primeiro acto foi publicar o Édito de Milão, que legitimizava e protegia a religião Cristã. Depois passou a apoiar financeiramente os clérigos Cristãos, construindo igrejas e promovendo-os para altos cargos no governo. Isso sucedeu durante cerca de 20 anos, até que os Cristãos ficaram firmemente no controle... e depois foi quando o holocausto realmente teve início. 

 

Imagem 42 - Ícone Cristão oriental representando o imperador Constantino e os Padres do Primeiro Conselho de Niceia (325), como detentores do Credo Niceno-Constantinopolitano de 381.


Em 331 d. C., Constantino ordenou que todas as religiões não-Cristãs fossem despojadas das suas riquezas, confiscando dos seus templos todos os objectos feitos em ouro ou prata. Isso levou-os imediatamente à falência, cortou o fluxo das novas doações e humilhou publicamente estes e os seus seguidores. Além disso, colocou uma quantia fabulosa de riqueza roubada nas mãos dos seus piores inimigos... os Cristãos... cujo objectivo abertamente declarado era exterminar os seus competidores.

Após a morte de Constantino em 337 d. C., os três filhos deste dividiram o império entre si. Constâncio II assumiu inicialmente o controle do Egipto e do Oriente Médio e Próximo, e eventualmente acabou por sobreviver aos seus irmãos para se tornar o único governante de todo o império romano. Durante seu reinado, ele ordenou o encerramento de todos os templos não-Cristãos (agora referidos como "pagãos"), proibiu rituais públicos e instituiu a pena de morte a quem pretendesse proferir profecias. Além disso, isentou todos os clérigos Cristãos de impostos e do serviço público compulsivo, bem como, concedeu-lhes imunidade de processo nos tribunais seculares, de modo que ficavam livres para atacar os pagãos à vontade.

Não demorou muito até que a violenta perseguição e o assassinato dos pagãos começasse. O templo da deusa Astarte na Palestina foi destruído, e todos os Sacerdotes e Sacerdotisas assassinados. Seguindo-se os sacerdotes no templo do Nilo. E, quando a população se revoltou, o complexo do templo e a biblioteca também foram destruídas, e todas as Sacerdotisas foram violadas e assassinadas.

Por todo o império, a população foi forçada a converter-se ao Cristianismo, senão enfrentava a tortura ou a pena de morte. Em 386 d. C., o templo de Zeus na Síria foi destruído, seguido pelos templos em Carrhae e Hierópolis. Em 389 d. C., Teodósio tornou-se imperador e continuou com a destruição. O templo de Ísis em Alexandria foi o próximo, seguido pelo templo de Tanit em Cartago, e outros inúmeros templos menores. 

 

Imagem 43 - Mapa das divisões administrativas do Império Romano em 395, sob Teodósio I.


A religião de Cibele foi especialmente odiada pelos cristãos por várias razões. Tinha uma história impressionante, tendo evoluído a partir dos primórdios pré-históricos como Catal Hoyuk a 6000 a. C... e, como tal, poderia de imediato reivindicar como sendo a primeira e mais antiga religião da humanidade. Era popular, com um longo historial de serviço à comunidade e, como já discutimos, as Sibilas do mundo antigo eram de facto Sacerdotisas de Cibele.

Claramente, a declaração da pena de morte feita por Constâncio II, para qualquer um que pretendesse proferir profecias, pretendia de imediato destruir o poder das Sibilas e dos seus Oráculos. Sendo que a maioria das religiões pagãs (especialmente os templos de Cibele) empregavam transexuais, sendo que, os líderes Cristãos convenceram Teodósio que estes eram anti-naturais e más pessoas.

Consequentemente, em 390 d. C., Teodósio emitiu ordens para que todas as Sacerdotisas transexuais fossem assassinadas, torturadas até a morte ou queimadas na fogueira. Isso forneceria ainda outra desculpa para atacar os templos remanescentes. Esquadrões da morte Cristãos deambulavam por todo o império, ansiosos por cumprir estas ordens. Nos anos seguintes, quase todos os pequenos templos da Turquia, Egipto e Oriente Médio foram destruídos, e os Sacerdotes e Sacerdotisas assassinados.

Uma civilização que já foi tão avançada em termos de arte, literatura, ciência e filosofia, depressa ficou em ruínas... os grandes templos e bibliotecas que possuía, a sua cultura e as suas tradições desapareceram. O templo de Apolo em Delfos, outrora o coração do mundo antigo, foi encerrado. E, o Oráculo falou pela última vez em 393 d. C.: 

 

 Diga ao rei; a bela casa forjada caiu.

Apolo não tem abrigo, nem folhas sagradas de louro;

Agora as fontes estão em silêncio; a voz está silenciada.

Está terminado.

 

Em 410 d. C., o império Romano ocidental entrou finalmente em colapso. O saque dos templos tinha proporcionado dinheiro rápido o suficiente para mantê-los por um tempo, mas quando isso terminou, o império ficou completamente falido, com o seu tecido social antigo destruído e as pessoas aterrorizadas pelo seu próprio governo, tendo sido rapidamente atacados pelo chefe Visigodo Alarico I

 

Imagem 44 - A situação caótica da política do Império Romano no final de 410: (amarelo) Império Romano legítimo do Ocidente sob Honório; (vermelho) área controlada pelo usurpador Constantino III; (verde) área em revolta contra Constantino III; (roxo) Francos, Alemães e Borgonheses; (castanho) área controlada pelo usurpador Maximus; (azul) Vândalos Silingi; (turquesa) Vândalos Hasdingi e Suebi; (cinzento) Alanos; (magenta) Visigodos.

 

O império Bizantino (Romano oriental) sobreviveu muito mais tempo. Durante os séculos V e VI, sob os imperadores Justiniano e Tibério II, a destruição dos últimos templos pagãos remanescentes continuava, assim como o assassinato de seus Sacerdotes e Sacerdotisas, ou qualquer pessoa que se recusasse a aceitar o Cristianismo.

Muitos e grandes professores, médicos, cientistas e intelectuais morreram nesse genocídio. As bibliotecas foram incendiadas, simplesmente porque os estes livros foram escritos por pagãos. Isso teve o efeito de submergir o mundo naquilo que chamamos "eras das trevas", um período de quase 1000 anos de pobreza, ignorância e doença.

Quando a raça humana começou a recuperar-se deste holocausto, os fanáticos Cristãos forçaram toda a população do mundo ocidental a converter-se, e assumiram o controle de praticamente todos os aspectos da religião organizada, além de terem estabelecido uma voz poderosa no governo. Além disso, tornaram-se nos únicos guardiões da nossa história escrita, esforçando-se por destruir todo o conhecimento das crenças religiosas dos nossos ancestrais, de forma a esconder os crimes horríveis por eles cometidos contra a humanidade. 

 

Imagem 45 - Díptico de marfim de uma Sacerdotisa de Ceres, ainda no estilo totalmente clássico, c. 400, que foi desfigurado e atirado a um poço em Montier-en-Der.

 

Imagem 46 - Estátua de culto a Augusto deificado, desfigurada por uma cruz Cristã esculpida na testa do imperador.

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