Capítulo 15
PREPARANDO-SE PARA A PRÁTICA MODERNA
As pessoas geralmente assumem que a prática de uma religião como a nossa deveria começar com algum tipo de treino espiritual ou metafísico... no entanto, esse não é bem o caso. Se quisermos ser bem-sucedidos nos nossos esforços, a maioria de nós, primeiro precisará de uma preparação mental bem específica. Muitos grupos de Deusas modernas parecem ignorar completamente isso, o que faz com que os seus alunos tenham resultados ruins e fiquem frustrados.
Não podemos fazer um belo entalhe com uma faca cega, não importa o quanto nos esforcemos. A nossa mente, como a lâmina da faca, deve primeiro ser afiada, se é para nos servir bem. Todos que conheço, que tiveram sucesso na sua busca por uma compreensão da espiritualidade e do universo metafísico, fizeram isso... seja conscientemente, através de algum processo formal, ou de uma maneira mais subconsciente e intuitiva. Infelizmente, a nossa sociedade moderna levou-nos a desenvolver alguns modos de pensar muito negligentes, preguiçosos e simplesmente defeituosos... e estes devem ser corrigidos antes de tentarmos fazer qualquer coisa.
Tomemos um momento para considerarmos como este dilema apareceu…
Como sabemos, os nossos ancestrais neolíticos experimentaram uma proximidade invejável com a Deusa nas suas vidas diárias, algo que infelizmente está em falta hoje. Com o tempo, à medida que a ciência e a lógica passaram a definir e a delimitar o nosso mundo, foi perdido algo muito precioso. Mesmo com todas as nossas impressionantes realizações técnicas, a nossa civilização continua muito carente da moralidade e sabedoria espiritual. A ciência e a lógica não conseguem explicar o valor ou o propósito da vida humana, não nos mostram o que é certo ou errado, nem revelam a beleza da nossa vida em todas as suas dimensões espirituais, ou capacitar-nos a alcançar a harmonia com a mente da Deusa. Essas coisas só podem ser encontradas intuitivamente... mas, na maioria dos casos, a nossa intuição tornou-se bastante monótona e disfuncional.
O desenvolvimento do pensamento lógico foi bastante natural, pois o homem debateu-se com várias tarefas novas e complexas. Como ferramenta para resolver problemas matemáticos e científicos, funciona bastante bem... no entanto, também tem algumas falhas sérias, o que o torna inadequado para resolver questões morais e espirituais.
Por exemplo, a lógica baseia-se na premissa de que todos os factos numa determinada situação são conhecidos por nós... mas em muitas áreas da vida, isso simplesmente não é o caso. Ainda outro problema com a lógica, é sua obsessão com a prova. Em qualquer situação, fomos ensinados a desconfiar da nossa intuição e exigir provas empíricas de tudo... e se tal prova não estiver imediatamente disponível, então foi-nos dito que devemos concluir que as nossas percepções não são consideradas válidas.
Os povos antigos não estavam sobrecarregados por um sistema de pensamento tão restritivo. Eles confiavam nos seus instintos e eram mais capazes de perceber a presença da Deusa, energias espirituais e outros eventos metafísicos. Se quisermos obter o tipo de percepção, sensibilidade e consciência que eles possuíam, são necessárias que ocorreram algumas modificações importantes no nosso modo de pensar actual.
Gostaria agora de discutir uma prática muito bem documentada e comprovada que, se seguida de forma diligente, pode permitir que a eliminação de muitas das falhas típicas que possam existir no nosso modo de pensar actual. De facto, o método que estou prestes a recomendar pode produzir melhorias muito valiosas no processo do pensamento, além que, facilitam a nossa jornada nas dimensões espirituais e metafísicas do universo, mas também, beneficiam em muitas outras áreas da vida.
Esta prática não é uma descoberta recente... na verdade, há milhares de anos, as pessoas começaram a perceber as limitações inerentes da lógica, com definições e convenções bastante artificiais. Como resultado, evoluiu uma disciplina conhecida como Zen. Eu acredito que esta prática pode ser muito útil para nós, então eu gostaria de apresentar algumas informações básicas sobre isso. Se você decidir segui-la, há muitas obras de qualidade disponíveis sobre o assunto.
O Zen é uma consequência do budismo, originário na Índia. De lá, espalhou-se para a China e Japão. Ao contrário de outras seitas budistas, o Zen não envolve divindades ou crenças metafísicas. Portanto, não é realmente uma religião... mas um modo especial de pensar, baseado na percepção que a vida é, em muitos aspectos, ilógica, misteriosa e, em alguns casos, até mesmo incompreensível, e que coisas como a lógica, muitas das vezes, obstruem a nossa capacidade de pensar, perceber a verdadeira realidade e viver plenamente no momento. Consequentemente, o Zen objectiva alcançar a iluminação espiritual e intelectual transcendendo a lógica.
Um ensinamento básico do Zen diz respeito ao sujeito do ego, que é a causa da maioria dos conflitos e injustiças no mundo. Depois de algum estudo, descobrimos que quase todo ego é falso e é prejudicial para nós mesmos e para os que nos rodeiam. É especialmente perigoso, quando encontrado nas pessoas que detêm o poder. Ao eliminar o falso ego, começamos a ver, a nós e aos outros, de maneira mais realista... e isso leva a uma tomada de decisão e a uma felicidade pessoal muito melhores.
Outro ensinamento primário do Zen, está relacionado com a nossa visão do mundo. A maioria de nós desenvolveu (ou aprendeu) certos conceitos, tendências e outras ideias preconcebidas, que interferem na nossa capacidade de ver as coisas como elas realmente são... essa "desconexão" da realidade é outra das causas da infelicidade e da pobre tomada de decisão. Ao eliminar esses preconceitos, podemos começar a julgar as pessoas e os eventos pelos seu mérito real, isso aproxima-nos muito mais do mundo que nos rodeia de várias maneiras.
Um outro ensinamento do Zen digno de nota diz respeito à paciência. É algo que não vem naturalmente para nós como seres humanos, por isso deve ser desenvolvido. Devemos lembrar que qualquer empreendimento significativo levará tempo... e sem paciência, limitamo-nos muito e causaremos frustração e infelicidade desnecessárias. Infelizmente, a nossa cultura "fast food" é baseada na ideia de fazer as coisas rapidamente ao invés de fazê-las bem. Este é mais um paradigma defeituoso que seria sensato corrigir.
Em certos países Asiáticos, os jovens geralmente passam por algum treino num dos templos budistas locais, onde professores experientes trabalham com eles. Além das palestras e estudos, eles empregam outros métodos como contemplar koans e sentar em meditação. Embora a maioria de nós não tenha acesso a um professor experiente, ainda podemos aprender muito com o estudo privado, e talvez brincar com alguns koans e fazer alguma meditação.
Os benefícios da meditação são muito maiores do que a maioria das pessoas poderia esperar. A mente funciona um pouco como um computador, com muitas tarefas em andamento, e algumas com backup a aguardar a nossa atenção. Isso tem o efeito de distorcer as nossas prioridades e deixar-nos num sentimento vago e stressado. A meditação não apenas alivia esse stress, mas ajuda-nos a colocar as nossas prioridades em ordem e mantê-las no lugar.
A meditação não exige que nos sentemos no chão em posição de lotus. Simplesmente envolve um breve período de paz e tranquilidade, durante o qual não se pensa em absolutamente nada. É claro que isso não é tão fácil quanto parece... mas ao desligar a mente consciente por um curto período de tempo, esses recursos mentais são disponibilizados para o subconsciente, que é então capaz de alcançar o seu registo de trabalho. O resultado está em sentir-se mais revigorado e claro, tornando-se muito mais capaz de lidar com os desafios da vida diária.
Técnicas de auto-aperfeiçoamento como estas podem ajudar-nos a alcançar uma forma muito melhor de pensar. Uma vez que colocamos todas as convenções intelectuais, regras da lógica e outras artimanhas artificiais da civilização ocidental no seu devido lugar, poderemos então retornar mais uma vez ao estado ilimitado da consciência que os nossos ancestrais desfrutavam... e começar a perceber o mundo espiritual e metafísico à nossa volta de forma mais directa e notável.
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| Imagem 86 - A felicidade é a abstenção da procura pela felicidade. ~ Chuang Tzu. |